


Atualmente a ONU estima que, para satisfazer as necessidades mais elementares de moradia no mundo até final do ano 2000, serão necessárias pelo menos 500 milhões de casas. "Baseado no atual cenário econômico-social, o solo se revela como o material com maior vocação para retomar o hábito de compatibilizar, harmonicamente, o projeto arquitetônico, os materiais locais e o sistema construtivo", pondera o pesquisador. O trabalho de Casanova foi reconhecido em reunião anual da UNESCO. Há mais de duas décadas, o professor percorre de favelas a empreiteiras, de prefeituras brasileiras aos governos no exterior, em busca de quem queira financiar o invento, até pouco tempo relegado às prateleiras pelos próprios acadêmicos. Agora, depois do aval das Organizações das Nações Unidas (ONU) e do Musée de Caen, na França, seu projeto começa a sair do papel. Foi depois que o professor expôs seu projeto no Fórum Internacional de Ação Solidária para o Desenvolvimento Social da Unesco, em Paris, há dois anos, e seu estudo publicado em mais de 140 línguas, que suas idéias foram reconhecidas.

A receita do tijolo de solo estabilizado é simples: mistura-se solo, água e uma pitada de cimento e leva-se a massa para uma prensa. Depois de sete dias protegido do sol, está pronto. Como apoio do CNPq, da Faperj e Finep, Casanova aperfeiçoou a técnica, estudando as peculiaridades dos solos brasileiros e transformando a lição européia em casa dos sonhos por aqui. Feito brinquedo de criança, o tijolo encaixa um no outro, sem necessidade de cimento, até levantar a construção. Depois é só passar um impermeabilizante e aplicar cimento nas colunas de sustentação. A casa pode ser em tons de vermelho, bege, amarelo, branco, dependendo das propriedades do solo. Do ponto de vista da proteção ambiental, o tijolo e o cimento feitos de lixo industrial são ainda mais verdes.
Depois de criar fórmulas com todo tipo de solo, do argiloso ao arenoso, o professor decidiu tentar usar os rejeitos que se acumulavam nos pátios de fábricas de química, metalurgia, siderurgia, mineração, pedreiras e galvanização. Amontoados em galpões, estes resíduos ocupam espaço, poluem o solo e contaminam lençois de água no subsolo. E esse lixo, visto como problema, virou sinônimo de solução. A escória, resíduo das usinas siderúrgicas, é a base para a composição do cimento verde. A cada tonelada de aço produzido, mais de 300 quilos de uma espécie de lava escorre dos altos fornos, a 1600 0C. Resfriada, torna-se uma espécie de areia, formada pela argila do minério de ferro misturada com silício e alumínio: a escória. Volta Redonda virou um paraíso para Casanova. Berço da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a cidade atraiu muitas outras indústrias de base, todas produtoras de matéria-prima para o cimento e o tijolo de Casanova. O cimento de sobrenome "verde", demora mais a secar do que o cimento convencional, mas é mais compacto e resistente. Melhor: não precisa ir para o alto forno, como acontece nas indústrias de cimento Portland, com mérito de economicamente viável.
As cimenteiras são um alvo favorito do professor. Ele critica a Votorantim e a Tupi por não doarem um pouco da escória que compra da CSN para o projeto da prefeitura de Volta Redonda. "Falta à universidade e principalmente ao empresariado o que nos países ricos se denomina de cidadania corporativa", dá bronca. Outras empresas da região, no entanto, colaboraram doando resíduos. "A gente até entende. De alguma forma, vamos concorrer com eles", consola-se o engenheiro Paulo Neto, coordenador do projeto. Não é só o sobrenome que parece traduzir o trabalho de Casanova. O nome Francisco também parece adequado para quem, como ele, costuma subir favelas para ajudar na construção de casas. Ele junta gente em escolas improvisadas e ensina as fórmulas do ramo da construção para serem postas em prática em forma de mutirão. Está caro o tijolo, está caro o cimento? "Organizem-se que eu ensino", diz ele.


A idéia do tijolo solo-cimento não é novidade e já foi empregada na construção da Muralha da China, há mais de 4 milênios. De lá para cá, sua utilização sofreu modificações quanto ao uso e formatos, porém em pequena escala, comparado ao processo tradicional de construções. O engenheiro civil recém-formado pela Universidade de Uberaba, Daniel Bertolucci Silva, 24 anos, explica que o tijolo solo-cimento é um material elaborado no próprio canteiro de obras. Os materiais fornecidos pelo solo são misturados com água e cimento. Esta mistura é prensada em uma máquina para adquirir forma. Feita a modelagem, o tijolo sofre processo de cura e após sete dias, pode ser empregado na obra.
"Além de reduzir os custos da obra, o tijolo permite otimização de tempo, elimina o desperdício e facilita seu manuseio e aplicação pelo formato que possui. As peças tem formas côncavas e convexas que permitem um fácil encaixe, como um brinquedo Lego, eliminando assim a necessidade de massa para fazer a emenda das peças". Além disso, Daniel afirma que o tijolo possibilita a edificação de obras com qualidades estruturais, fácil colocação de tubulações para redes hidráulicas, de telefone e de energia. A constituição física do tijolo permite um isolamento térmico e acústico, garantindo conforto ambiental da edificação sob diversas condições climáticas e reduzindo ruídos externos. Esta é a base de pesquisa do engenheiro, que está fazendo mestrado com ênfase em edificações na Universidade de Campinas (Unicamp).
Fonte:
http://www.planeta.coppe.ufrj.br/noticias/noticia000057.html
http://www.planeta.coppe.ufrj.br/planetacoppe.old/noticias/noticia000175.html
http://www.revelacaoonline.uniube.br/cidade/sacramento.html
http://redeglobo5.globo.com/pegn/PegnTV/pegn26112000.htm
acesso em março de 2002
http://www.meusite.pro.br/habitat/casanova.htm
acesso em outubro de 2002
http://www.planeta.coppe.ufrj.br/ acesso em janeiro de 2003
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